Por que o Hezbollah está ameaçando um pequeno país da União Europeia?

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Por que o Hezbollah está ameaçando um pequeno país da União Europeia?

Líder do grupo acusou o Chipre de colaborar com Israel

Porto Velho, RO - Num discurso inflamado esta semana, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, destacou o vizinho Chipre, ameaçando atacar a pequena e dividida ilha do Mediterrâneo se ajudar Israel numa potencial guerra entre o grupo libanês e Israel.

“Chipre também fará parte desta guerra” se abrir os seus aeroportos e bases às forças israelenses, disse o líder do grupo apoiado pelo Irã num discurso televisionado na quarta-feira (19), um dia depois de Israel ter alertado que a perspectiva de “uma guerra total” no Líbano estava “chegando muito perto”.

Respondendo aos comentários, o presidente cipriota, Nikos Christodoulides, negou estar envolvido na guerra.

“As declarações não são agradáveis, mas não correspondem de forma alguma ao que se tenta apresentar, uma imagem de que o Chipre está envolvido nas operações de guerra. De forma alguma”, disse ele, acrescentando que as linhas de comunicação estão abertas com os governos libanês e iraniano.

A União Europeia veio na quinta-feira (20) em defesa do Chipre, dizendo que uma vez que a ilha “é um estado membro da UE, isso significa que a UE é o Chipre e o Chipre é a UE”.

“Qualquer ameaça contra um dos nossos Estados-membros é uma ameaça contra a UE”, disse Peter Stano, porta-voz da UE, aos jornalistas.

A vizinha Grécia também expressou a sua “solidariedade total” com o Chipre, dizendo no X que “a ameaça de uso da força é uma violação flagrante da Carta das Nações Unidas”.

Numa aparente tentativa de controlar os danos, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, Abdallah Bou Habib, telefonou ao seu homólogo cipriota, Constantinos Kombos, expressando a “contínua confiança do Líbano no papel positivo desempenhado pelo Chipre no apoio à estabilidade na região”, de acordo com a mídia estatal libanesa.

Embora os especialistas digam que a guerra entre Israel e o Hezbollah continua improvável, a simples menção do Chipre acrescenta uma nova dimensão ao conflito Israel-Hamas em Gaza. Corre o risco de arrastar uma nação da UE para uma guerra que já se espalhou por todo o Oriente Médio e coloca em destaque os laços do Chipre com Israel.

Por que a localização do Chipre é importante?

Uma ilha no Mediterrâneo Oriental localizada numa falha geopolítica entre o Oriente Médio e o Sul da Europa, o Chipre está geograficamente muito mais próximo dos conflitos no Oriente Médio do que dos centros de poder europeus.

A ilha tem o dobro do tamanho do estado americano de Delaware e está dividida em duas partes: uma parte sul de língua grega conhecida como República do Chipre, e uma região de língua turca conhecida como República Turca do Norte de Chipre. A divisão da ilha reflete a rivalidade entre os inimigos regionais Grécia e Turquia. A maior parte da comunidade internacional reconhece apenas a soberania da parte grega do Chipre, e foi a essa nação que as ameaças de Nasrallah foram dirigidas.

A República do Chipre é membro da UE, mas não da aliança de defesa da Otan, que obriga os países membros a defenderem-se uns aos outros em caso de ataque. É o lar de cerca de 920.000 pessoas, sendo Nicósia a sua capital.

Quão próximos são os laços do Chipre com Israel?

As relações diplomáticas entre Chipre e Israel começaram em 1960, após a independência da ilha do domínio colonial britânico, mas o Chipre só abriu uma embaixada em Tel Aviv em 1994. As relações azedaram nas décadas de 1980 e 1990 devido a questões como os laços estreitos de Israel com a Turquia e o conflito árabe-israelense, no qual o Chipre ficou do lado dos estados árabes e apoiou a criação de um Estado palestino.

Os laços foram recuperados no final da década de 1990 e na década de 2000, quando Israel começou a recorrer ao Mediterrâneo Oriental em busca de parcerias econômicas, especialmente após a descoberta de gás natural na região. Especialistas dizem que Israel também olhou para o Chipre como um parceiro para frustrar ameaças regionais, especialmente da Turquia e de grupos ligados ao Irã.

Nos últimos anos, Israel tem utilizado o território cipriota para treinar as suas tropas numa possível guerra com o Hezbollah. O terreno do Chipre é semelhante ao do Líbano, afirmaram as Forças de Defesa de Israel (FDI), segundo a mídia israelense.

Em 2022, as FDI conduziram um exercício militar conjunto com as forças cipriotas. Parte do treinamento conjunto se concentrou no combate a múltiplas frentes e no combate ao Hezbollah no Líbano, informou a mídia israelense. Os seus últimos exercícios foram realizados em maio de 2023, no Chipre.

A presidência cipriota disse no X na quinta-feira que o país “nunca facilitou e não facilitará qualquer ação agressiva ou ataque contra qualquer país”.
Qual tem sido o papel do Chipre na guerra de Gaza?

O Chipre tem feito questão de dissipar quaisquer sugestões de que esteja envolvido na guerra de Gaza, salientando os seus esforços humanitários que ajudaram a trazer alguma ajuda para Gaza.

“A República do Chipre não faz parte do problema. A República do Chipre é parte da solução”, afirmou Christodoulides, o presidente. “E o nosso papel nisso, como demonstrado, por exemplo, através do corredor humanitário, é reconhecido não apenas pelo mundo árabe, mas pela comunidade internacional como um todo.”

Em março, o Chipre começou a permitir que navios de ajuda partam dos seus portos como parte dos esforços internacionais para criar uma rota de ajuda humanitária via marítima em direção a Gaza.

O primeiro carregamento marítimo para Gaza transportou 200 toneladas de alimentos, o que equivale a cerca de 500 mil refeições. Foi também criada uma plataforma logística da UE no Chipre para facilitar o fluxo de ajuda para Gaza.

Nicósia criticou algumas das ações de Israel em Gaza, especialmente aquelas que dificultaram a entrega de ajuda humanitária.

Em abril, o Chipre emitiu uma declaração conjunta com os Emirados Árabes Unidos, condenando o ataque mortal israelense ao grupo de caridade World Central Kitchen, que matou sete pessoas.

Também condenou repetidamente o Hamas pelo seu ataque de 7 de outubro a Israel.

Fonte: CNN Brasil

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